O europeu quando chegou à África, primeiro para escravizar e depois para colonizar, se defrontou com uma figura que nunca tinha visto, que tinha uma forma de representação que eles ligaram ao diabo, e disseram: "isto não pode ser Deus, se isto se opõe ao sagrado, isto é o demônio, é o diabo". Tratava-se de Exu e de sua representação, o Ogó, o falo humano. E a partir daí, o preconceito, a discriminação, o racismo e a ignorância fizeram o resto.
Exu apresenta aquilo que é mais importante para a cultura. Para o Yorubá ter filho é importante, por isso Exú é essa representação. Ele tem a representação do falo porque ele vai fecundando o Cosmos. Sem ele o Axé não se renova, e se não se renovar ele fenece e morre. Se Exú não fecunda o Cosmos, esse Universo morre, acaba, não tem sentido. Exu joga as sementes sobre o Cosmos, por isso a representação dele tem que ser um falo, o que para o Yorubá é muito natural.
Exú é o único que pode se apresentar diante de Olodunmare, porque ele é o único que está mais próximo dos homens, e é aquele que vigia o comportamento das divindades e dos homens. Para qualquer africano tradicional, nada é mais importante do que ter uma prole numerosa, e para garanti-la é preciso ter muitas esposas e uma vida sexual regular e profícua.
É preciso gerar muitos filhos, de modo que, nessas culturas antigas, o sexo tem um sentido social que envolve a própria idéia de garantia da sobrevivência coletiva e perpetuação das linhagens, clãs e cidades. Exu é o patrono da cópula, que gera filhos e garante a continuidade do povo e a eternidade do homem. Nenhum homem ou mulher pode se sentir realizado e feliz sem uma numerosa prole, e a atividade sexual é decisiva para isso. É da relação íntima com a reprodução e a sexualidade, tão explicitadas pelos símbolos fálicos que o representam, que decorre a construção mítica do gênio libidinoso, lascivo, carnal e desregrado de Exú.

Fonte: “Mitologia dos Orixás” – Reginaldo Prandi
“Cultura Ioruba” - Palestra de Juarez Tadeu de Paula Xavier